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8 de junho de 2024

SDA ENTREVISTA - Silvio Aguiar

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Entrevista com SILVIO AGUIAR, Psicofisiologista do Esporte, conheci o Silvio durante a pandemia, mais uma grande indicação do Carlos Paiva, nossa primeira conversa durou 2 horas, mais do que dura uma seção, porém a afinidade e amor pelo esporte nos conectou de imediato, ele se tornou professor da ESCOLA DO SQUASH que criamos e de tão espetacular seu conhecimento que continuou pelos módulos branco, azul e amarelo. Vamos conhecer um pouco mais sobre seu trabalho e recomendo a todos seguirem com ele um caminho que os campeões percorrem

BRASILEIROS PELO MUNDO

Conta como foi suas experiências olímpicas e o impacto que teve na escolha da sua profissão?


Desde cedo eu sonhava em ser atleta Olímpico, só não tinha ideia de qual modalidade. Meu pai era corredor e foi recordista da Forças Armadas em três provas: 800, 1.500 e 3.000 metros. Eu via os recortas de jornal e as medalhas dele e isso certamente me motivou a seguir a mesma trajetória. Não tive sucesso em nenhuma prova de atletismo, mas o sonho permaneceu. Fiz tênis de mesa, natação, vôlei de quadra e de praia, polo aquático e pentatlo militar, sendo que essas duas últimas modalidades eu pratiquei respectivamente no primeiro e segundo ano da Escola Naval (EN), onde cursava Engenharia Mecânica (1974 – 1978).


Para minha sorte, os técnicos de polo e pentatlo, foram sinceros e me “orientaram” buscar outra modalidade. O sonho Olímpico permanecia, porém, cada vez mais distante. Quando eu saí da equipe de pentatlo, soube que haveria a possibilidade de fazer um teste na equipe de tiro esportivo, isso em 1976, no terceiro ano da EN. Eram dez candidatos para uma vaga. Despois de três semanas de seletivas, a vaga era minha. Depois de dois meses de treinamento, o técnico Silvino Ferreira, me falou: “você leva jeito... se treinar sério, pode até ir à uma Olimpíada!”. Ele havia representado o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres em 1948, na prova de Pistola Livre, a mesma que eu iniciei com ele.


Desse dia em diante, eu treinava todos os dias, sem sábado, domingo ou feriado. Após um ano de treino eu estava na Seleção Brasileira, ainda como júnior. Na minha primeira participação, no Torneio Internacional de Tiro Esportivo Benito Juarez, no Mexico, venci as três provas que disputei. 


Em 1980, o sonho Olímpico se concretizou, e eu estava em Moscow, onde estabeleci a marca de 558 pontos, que é até hoje a melhor marca de um brasileiro em Jogos Olímpicos, na prova de Pistola Livre. Em 1984 fui a Los Angeles, mas a classificação não foi tão boa. Em 1987 encerrei precocemente a carreira de atleta por uma lesão no ombro, por não ter um programa adequado de treinamento físico. 


Em 2004, assumi como técnico da Seleção Brasileira Feminina de Pistola, visando os Jogos Pan-Americanos Rio 2007. Para entender a razão pela qual as atletas treinavam bem, mas não conseguiam replicar a performance nas principais competições, em 2008 fui cursar Psicologia na Universidade Santa Úrsula. Terminei a faculdade e, em seguida, me especializei em Neurociências Aplicadas (UFRJ), em Neurofeedback (Nova Tech EEG/USA) e em Biofeedback (BFE/POR). Em 2014 assumi como Psicólogo da Seleção Brasileira de Tiro Esportivo, inaugurando no Brasil a inclusão sistemática da Psicofisiologia Aplicada na preparação esportiva, treinando os atletas via Sistema Nervoso Central (Neurofeedback) e Autônomo (Biofeedback). 



Não foi fácil convencer o COB da eficácia dessas técnicas, pois erão ainda desconhecidas no Brasil. Em 2015, assumi como Psicólogo do Time Brasil Rio 2016. O resultado não poderia ser melhor: depois de 90 anos o Brasil conquistava a sua quarta medalha Olímpica no Tiro Esportivo, prata com Felipe Wu na prova de Pistola de Ar. As três primeiras foram em 1920, nos Jogos Olímpicos da Antuérpia.

Consegue resumidamente explicar a diferença da Psicologia tradicional com a psicologia esportiva voltada para alta performance?


Na realidade temos a Psicologia Clínica, onde trabalhamos as psicopatologias, a Psicologia do Esporte, onde treinamos o sujeito atleta visando a melhora da performance esportiva, e a Psicofisiologia do Esporte, área onde atuo e que ainda é pouco difundida no país. 


São atuações que exigem formações diferentes. As faculdades de Psicologia formam Psicólogos Clínicos. Para atuar como Psicólogo do Esporte, é necessário a especialização através dos cursos de pós-graduação em Psicologia do Esporte. Já para trabalhar com as técnicas da Psicofisiologia, seja no esporte ou na clínica, é necessário a formação em Biofeedback e Neurofeedback.


Complementando, a atuação do Psicólogo no esporte, é muito ampla, indo desde o “treinamento” dos pais, nos núcleos de base, até a preparação psicofisiológica do atleta de nível mundial, que seria a alta performance.

Porém, cada dia fica mais evidente a importância de utilizarmos as respostas fisiológicas no nosso trabalho. Nos últimos cinco anos venho me especializando na utilização dos parâmetros da Variabilidade da Frequência Cardíaca, na preparação de atletas (e não atletas), visando a melhora da performance em diversas áreas de atuação humana. É o que há de mais atual na gestão do impacto da carga de treinamento no organismo do sujeito, garantindo a adequada recuperação e crescente adaptação fisiológica. 

A partir de que idade é recomendado o início de um processo de psicologia esportiva? O trabalho de um juvenil é diferente?


O Psicólogo do Esporte tem que estar presente desde o primeiro treino do candidato a atleta, não importando a idade ou modalidade. No núcleo de base, trabalhamos mais com os pais e treinadores do que com os atletas!

Iniciar com a correta orientação psicofisiológica, garante a permanência do sujeito na modalidade e o adequado desenvolvimento do que chamo de “caráter competitivo”. 


A questão da faixa etária, varia também com a modalidade esportiva. Na natação, por exemplo, com 16 anos um atleta já pode estar na Seleção Brasileira representando o país nos Jogos Olímpicos. No Tiro Esportivo, a maioria inicia com mais de 20 anos. Porém, as questões do desenvolvimento orgânico estarão presentes em qualquer modalidade e, o que é mais importante, os fatores externos também variam e hoje são muito mais complexos devido às famosas mídias sociais. Mas, cada caso é um caso. Cada atleta tem uma história de vida que impacta no seu comportamento e por conseguinte, no seu desempenho. 


Eu costumo fazer duas perguntas aos jovens atletas: 

  • A primeira é: qual o seu sonho como atleta? A maioria responde que quer ser top 10 do mundo. Excelente resposta! – eu digo.
  • A segunda é: você está disposto a pagar o preço para ser top 10 do mundo?


Para o adolescente do século XXI, esse preço é bem alto!! Não tem como ser top 10 do mundo daqui a 10 anos, levando agora a vida de um jovem “normal”! O atleta de alto rendimento é atleta 24 horas por dia, 365 dias no ano, durante muitos anos. Tem que ser atleta 3D, com DNA de Dedicação, Disciplina e Determinação.


Em suma, o juvenil tem que ter muito bem definido no seu âmago, que o sonho é dele!!!

Você fez parte da ESCOLA DO SQUASH o que achou de entrar num esporte novo, já que veio do tiro e que similaridade você consegue traçar entre os 2 esportes?


Eu já tinha treinado um atleta de Squash, utilizando as técnicas de Neurofeedback e Biofeedback. Na época o trabalho era presencial. Esse trabalho gerou a indicação para ministrar o módulo de Treinamento Mental nos cursos da ESCOLA DO SQUASH, convite que me fez buscar muitas informações sobre a modalidade, confirmando o que o Carlos Paiva havia me dito: o Squash é um xadrez a 300Km/h!


Porém, todas as modalidades esportivas, são “mentais”. A diferença é em que velocidade o “jogo” ocorre. Não existe nenhuma resposta motora que não seja precedida de um pensamento. Tudo converge para esse ponto: gestão do conteúdo mental.


Desde o início, eu criei uma fórmula bem simples para nortear o meu trabalho: 


[Desempenho = Potencial – Ruído Mental]


Zere o ruído e terá o desempenho máximo que o seu potencial é capaz de produzir.


Isso é muito mais do indivíduo do que da modalidade. Por isso eu incluo práticas de Mindfulness e o Treinamento Autógeno na minha caixa de ferramentas.


Portanto, a similaridade, entre todas as modalidades é a presença da nossa área pensante. Meu segundo técnico, o alemão Kall Schllömer, dizia: “todo cenário competitivo tem pontos negativos e positivos. A maioria ficará preso nos pontos negativos. O Campeão, enxerga no mesmo cenário a oportunidade que lhe permitirá para vencer”. 


Não importa a modalidade. Mudando o foco, você mudará o jogo! 

Você fez um trabalho com o Murilo Penteado e em pouco tempo ele conseguiu seus melhores resultados no US OPEN e SULAMERICANO, a preparação mental realmente faz a diferença no alto nível? Jogadores como Nadal e Djokovit fazem esse tipo de preparação?


O trabalho com o Murilo foi dimensionado para o tempo que dispúnhamos. Como você ressaltou, o resultado ficou acima das expectativas para o período que durou. Normalmente só trabalho com pelo menos um ano de antecedência do evento alvo. 


Hoje não se admite um programa de treinamento de excelência que não incorpore o trabalho da preparação psicológica e eu diria que nos centros mais avançados, as técnicas da Psicofisiologia Aplicada também estarão presentes em conjunto com práticas de Mindfulness e de Treinamento Mental, como o Autógeno. 


No caso do Nadal, basta ver no site da Rafa Nadal Academy (https://www.rafanadalacademy.com/en/method/mental-trainning) a importância que ele dá ao treinamento mental.


No caso de Djokovic, a história de vida marcada pelas guerras que vivenciou quando criança, forjaram a capacidade de suportar os momentos críticos com frieza. O seu programa de treinamento inclui técnicas de Mindfulness, além do ajuste nutricional, conforme relata em seu livro “Serve To Win: The 14-Day Gluten-free Plan for Physical and Mental Excellence”.


Finalizo com um alerta para todos os leitores, que é o slogan da NeuroPower®: Sem Saúde não há Performance! 

Não tem como progredir no esporte e na vida sem a manutenção dos pilares que sustentam a saúde do organismo: higiene do sono e recuperação adequada, alimentação saudável e balanceada, treinamento periodizado, relações interpessoais de qualidade, gestão do conteúdo mental e zero consumo de substâncias tóxicas.

Mauricio Penteado

Fundador do SDA e criador da Escola do Squash

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